Os textos de Tamara Klink

Internet, Literatura

Tamara Klink é velejadora e, sim, ela seguiu os passos do pai, Amir Klink. Aos 26 anos, ela já atravessou o Oceano Atlântico e cruzou o Círculo Polar Ártico.

Em seu perfil no Instagram, @tamaraklink, ela compartilha seus momentos de viagem por meio de vídeos e textos belos, encantadores e bem-escritos. Autora dos livros “Férias na Antártica” (2014), “Um mundo em poucas linhas” (2021), “Mil milhas” (2021), “Crescer e partir” (2021) e “Nós: o Atlântico em solitário”, a mesma habilidade que ela tem em atravessar os mares ela tem com as palavras. Gosto demais de tudo o que ela escreve.

Neste vídeo, ela narra um texto que escreveu para a avó antes de cruzar o Círculo Polar Ártico. Perdi as contas de quantas vezes eu o assisti, e me emociono toda vez. Lindo demais.

A dor silenciosa em “Promising Young Woman”

Cinema, Escritos

Eu escrevi este texto há dois anos, em maio de 2021, e o publiquei no Medium. Resolvi trazê-lo para cá pela importância da discussão que o filme “Promising Young Woman” traz, além disso, vou publicar textos meus vez ou outra por aqui.

(O texto a seguir não tem spoilers.)

Você está cursando medicina ao lado de sua melhor amiga, sua grande companheira desde a infância. Ela é brilhante, tem um longo caminho pela frente. Você é inteligente e ótima aluna, também terá um futuro promissor. Em uma festa da faculdade, sua amiga é levada embriagada para um quarto e estuprada por um colega de turma diante de uma horda de outros estudantes, aos gritos de incentivo e risos de satisfação. Esse acontecimento põe um fim ao futuro de sua amiga. O que você faz?


No filme “Promising Young Woman”, vemos Cassie sete anos depois da violência sofrida por Nina, sua amiga. O que aconteceu com Nina? Não sabemos, só podemos supor. O que aconteceu com Cassie? Ela abandonou a faculdade, mora com os pais, trabalha em uma cafeteria e se recusa a ter qualquer relacionamento amoroso. Toda semana, religiosamente, ela vai a um bar, finge-se de bêbada e espera algum homem vir ao seu encontro. Sempre a desculpa de ajudá-la, sempre o desfecho de tentativa de abuso. Não falha.

Cena do filme “Promising Young Woman”. Foto: Divulgação.


Todas as análises que eu li o classificam como um filme de vingança. Não só, Emerald Fennell, a diretora e roteirista do filme, o classifica dessa maneira. Se ela diz, quem sou eu para contestar. Talvez o final o coloque nessa turma, mas eu o vejo de outra forma. Para mim, há dois pontos principais: a dor silenciosa de Cassie e a sua saga em provar que Nina não teve culpa.

Cassie é vista como a adulta fracassada que “não deu certo” na vida. Consumida pela dor, ela não aceita o desfecho dos acontecimentos. Por que Nina teve sua vida interrompida enquanto a vida das demais pessoas envolvidas seguiu adiante? Esse não é um questionamento apenas do filme, mas da nossa sociedade: os rapazes seguem em frente, os homens promissores com um belo futuro pela frente. Olhe em volta, o mundo lhes concede o benefício da dúvida. As moças que juntem os cacos de sua própria negligência: quem mandou não se preocupar com a própria segurança?

Houve quem questionasse a escolha de Carey Mulligan para o papel principal porque ela não se encaixa no perfil de femme fatale, como ela poderia seduzir os homens? Veja bem, ela finge estar bêbada, ela se coloca em um estado de vulnerabilidade, os homens abusam dela. Isso é sedução? Não. Deveria haver alguma dúvida a esse respeito? Também não. As vítimas de violência somos nós, o tempo todo.

Cena do filme “Promising Young Woman”. Foto: Divulgação.


O alvo de Cassie não é apenas homens comuns à noite no bar, mas as pessoas envolvidas nos acontecimentos do passado. Ela se vinga? Para mim, ela caminha no limite entre “vou me vingar” e “viu como as coisas mudam quando é com você?”. Nada acontece de fato e quem assistiu entende o que estou dizendo.

Em um dado momento, temos o relacionamento amoroso entre Cassie e Ryan, um antigo colega de faculdade. Bacana, divertido, apaixonado, espirituoso, será possível existir um relacionamento saudável? Onde o passado se encaixa no presente? O relacionamento é um ponto de virada da história e cada qual tire as suas conclusões.

O final divide opiniões e trouxe algumas discussões acaloradas a seu respeito.

“Isso é culpa sua.”


A minha opinião: do ponto de vista cinematográfico, é um bom final, ele se encaixa perfeitamente à história. Por outro lado, ele me incomoda. Assisti ao filme duas vezes e o incômodo só aumentou. Precisava ser daquela maneira? Talvez precisasse, mas eu não queria. Não quero mais ver isso, nem nos filmes, nem na vida.

Cassie conseguiu provar o seu ponto: Nina não teve culpa. Nós mulheres não temos culpa. Compreender isso não é apenas entender “Promising Young Woman”, mas como a sociedade funciona. Quem sabe assim saímos desse ciclo de violência que não nos permite existir como merecemos.

Colombina

Dança

Sábado de Carnaval e logo pensei nesta bela coreografia: a “Variação da Colombina”, do ballet Harlequinade (1900). Amo tudo: a música, a coreografia, o figurino…

“Variação da Colombina”, Harlequinade, reconstrução de Alexei Ratmansky, Skylar Brandt, American Ballet Theatre, 2020.

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Quem se interessou, já falei diversas vezes sobre esse ballet lá no meu blog Dos passos da bailarina, aqui.